momento de viagem

sensações, emoções e imagens por aí!


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Novamente a Praia

Ainda não. Ainda não desliguei a tomada, ainda não cheguei à Europa, ainda não consegui compreender os acasos da vida humana, as coincidências, as sortes, os azares…
Estou confusa, confesso. E com sono, claro!
Como consigo eu perder tanto num dia e ganhar tanto no outro? Como pode a vida me esvaziar em cinco segundos e no mesmo tempo me dar tanto amor… Tanto carinho, tantos sorrisos, pequenos gestos tão quentinhos para a alma…
Estou confusa, sim. Mas feliz, radiante.
É o momento: estes são os meus momentos em viagem, que muito provavelmente terminam ao aterrar na minha base. Mas existem, eles estão lá, não posso negá-los nem evitá-los. Só viver… Respirar, deixar fluir.
Tantos pormenores que poderia aqui descrever, tantos mas tantos mesmo! Porém não o farei. Hoje vou guardá-los só para mim, não vou gastá-los. Estão lá, passaram e não deixarão nunca de estar dentro de mim. Dentro de mim…
Vida, obrigada por me devolveres o calor que me roubas de vez em quando! E venha a vida real, aterrar também é bom!


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Voar de noite

Há momentos em que nem tudo corre como planeámos. Aliás, nada…
E eis que afinal temos coisas boas que permanecem intactas, tal como a oportunidade de voarmos durante a noite. É uma noite a menos de angústia, de preocupação. No momento da descolagem respiramos fundo e sorrimos por termos conseguido descolar só por uma noite que seja. Sentimo-nos devastados por dentro, mas há coisas que compensam. O mundo acaba por nos oferecer pequeninas gotas de felicidade: um sorriso de alguém que nos faz sentir que ser boa pessoa é melhor do que virar as costas ao mundo; um comentário de quem nos diz estar contente connosco, só porque temos beleza. Como é possível sentir-me tão cansada, tão desidratada, e alguém ainda conseguir elogiar-me?
Voar de noite é mais ou menos assim: a descompensação misturada com elogios. Melhor do que horas de obsessão em frente a um rectângulo luminoso. Sei que a obsessão é negativa, sei que nada disto faz sentido, sei que devia respirar. Mas também sei que vem sempre um dia em que temos o direito de não conseguir controlar o que sentimos. Hoje é o dia, ou melhor, a noite!!! A voar, claro…


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Guiné Bissau de José Luís Peixoto

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Li uma crónica de José Luís Peixoto na revista Visão de 10 de Outubro de 2013, sob o título Guiné Bissau.
Ele realmente conseguiu fazer-me sentir novamente a sensação do que é ser roubado ou violentado por alguém que nunca nos viu.
Para ele foi pior do que para mim. E dizia ele na crónica “Antes de chegar ao mercado de Bandim, no centro de Bissau, já tinha reparado nas nuvens. Enormes, grossas, esculpidas em branco puro, a contrastarem com todas as cores do chão: a terra vermelha, rasgada por faixas de lama brilhante, e o lixo de cores desmaiadas, apodrecidas, castanho tristes. Sobre isto passavam mulheres a levarem todo o tipo de volumes à cabeça: caixas, latas, baldes. As cores dos tecidos que usavam eram vivas como se ardessem, azul a arder, verde a arder, amarelo a arder. Às vezes, quando vistas de frente, essas mulheres tinham um par de pezinhos espetados sobre as ancas. Quando vistas por trás, lá estava o rosto da criança, de face espalmada sobre as costas da mãe, a escutar-lhe a respiração, com o corpo moldado pela faixa que as unia.
Bandim anoitecia e, talvez por isso, notava-se uma pressa, uma febre. Muitas mãos escolhiam de montes de sapatos usados, todos diferentes. Nesse mesmo passeio, os corpos caminhavam desencontrados, tentavam desviar-se uns dos outros, à última hora e, com frequência, não conseguiam. Esbarravam com os cotovelos, com os ombros, com os joelhos. Seguíamos à distância de nos cheirarmos.”
E a descrição daquele fim de tarde continua, até que por fim José Luís Peixoto é violentado para ser roubado. Ao que parece não conseguiram levar mais do que o seu telemóvel, mas ele ficou magoado, física e psicologicamente.
Como eu o compreendo, já fui assaltada na minha querida cidade Praia, Cabo Verde. Fiquei chocada e revoltada. Já passou. Agora vejo tudo com outros olhos, mas isso não impede que me revolte novamente se voltarem a fazer-me o mesmo!! Que mania têm eles de cobiçar o que não lhes pertence!
E para piorar, ficamos assim, com maus sentimentos por terras que tanto adoramos, que tanto nos fazem bem, que tanto nos acolhem com tanto carinho e amor. Mas quando queremos, conseguimos ultrapassar. Eu consegui!
Supera Bissau, José Luís Peixoto…


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Ilha do Sal

Este será um post mais pessoal do que de viagem, talvez. Necessidades da Maricleta!
E quando aterro no Sal, sinto o bafo quente me tocando na pele, a humidade lambendo-me o corpo aos pouquinhos. Vou ficando mais quente e mais crioula. Tento falar crioulo com os cabo-verdianos e reparo nos olhos castanho claros de um deles. É típico, é típico deles. É típica a simpatia, a humildade e o sorriso.
É um mundo que comecei a conhecer há mais de dez anos quando entrou uma cabo-verdiana na nossa sala de aula (a Mayra). Não sei o porquê, nunca soube, ou talvez sim, o porquê de tanta curiosidade. Identifico-me com eles? Ou é mesmo uma necessidade de ver bébés lindos amarrados nas costas da mãe, de forma tão humana, tão próxima, tão simples, tão romântica?
O Sal é a ilha mais turística de Cabo Verde. Para mim o Sal é mais turismo do que Cabo Verde. Há-de ser uma boa ilha para praia, hotel, programas turísticos nos hotéis (dança), windsurf, kitesurf, enfim… Pesca no novo Pontão!
Mas quem sou eu para falar de coisas que nunca vivi? Só estive no Sal durante um pequenino dia, em escala para a ilha de Santiago. Em 2005 o aeroporto da Praia ainda não era internacional, portanto o Sal aconteceu por força das necessidades. E hoje voltei a ver o aeroporto do Sal à noite. E sim, os aeroportos em África estão abertos à noite muito mais frequentemente do que os da Europa. Será porque de dia está calor e gostam de trabalhar pela fresca? Hão-de haver mais explicações, não as sei.
E o sono teima em não ir embora, mas felizmente as piadas e a boa disposição imperam. O mundo lá fora é lindo, e também teima em ser difícil. Porquê? Porque nos sentimos injustiçados tantas vezes? E porque temos que tentar ser felizes mesmo assim: continuar a sorrir, continuar a dar amor, continuar a ser gentil, continuar, continuar, continuar.
Porra, depois do Sal tinha que vir um pouco de conversa insossa!


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Ilha da Boa Vista, Cabo Verde

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No outro dia li algumas sugestões de verão para férias, na revista Lux Woman do mês de Junho, 2013… É claro que os meus olhos se fixaram na ilha da Boa Vista, por todos os motivos e mais algum! O texto é de Sandra Cáceres Monteiro:

“Se aquilo que procura são umas férias na praia, em pleno contacto com a Natureza, a Ilha da Boa Vista pode muito bem ser a solução. As praias desertas a perder de vista são o melhor cartão-de-visita desta ilha, uma das maiores de Cabo Verde. Mas não só. O conhecido sentimento cabo-verdiano que dá pelo nome de ‘morabeza‘ (gentileza, amabilidade) faz aqui todo o sentido, pois é difícil encontrar população mais hospitaleira do que a da Ilha da Boa Vista. A pitoresca vila de Sal Rei, capital da ilha, tem apenas cerca de 2500 habitantes. Se, nalgum momento, se cansar de preguiçar na praia (se é que isso é possível!), a Boa Vista reúne também inúmeras condições para a prática de desportos náuticos, como surf, kitesurf, ou windsurf, sendo possível alugar material nalgumas escolas especializadas de Sal Rei. O turismo da Natureza é também uma grande aposta desta ilha, propícia a atividades como BTT, trekking ou passeios de todo-o-terreno. O mais difícil para quem escolhe a Boa Vista para passar férias é mesmo sair de lá…

A NÃO PERDER: A época de desova das tartarugas – nos períodos mais quentes do ano -, durante a qual são organizadas visitas guiadas às praias, com a supervisão de biólogos marinhos.

PREÇO: a Geostar sugere um pacote de oito dias/sete noites, no Marine Club Beach Resort, em regime de alojamento e pequeno-almoço, a partir de 563€ (voo incluído). www.geostar.pt .”

Aproveito para acrescentar que ouvi dizer que Sal Rei tem mais habitantes do que estes 2500, e muitos deles já são europeus! Também me disseram que já há imensos vôos para a Boa Vista com outras companhias aéreas europeias, tais como a Thomson a partir de algumas cidades da Inglaterra (http://flights.thomson.co.uk/en/index.html), e a Jet Air Fly (https://www.jetairfly.com/), a partir de Bruxelas. É claro que pode não ser tão rápido quanto ir de Lisboa até Praia e depois Boa Vista na TACV ou TAP Portugal… E a TAP vai começar a fazer vôos directos Lisboa – Boa Vista em Novembro de 2013. Mas bem, talvez os preços sejam diferentes!

Isto claro, se optarmos por lá ir sem nenhum pacote de agência de viagens… Como a Maricleta é um pouco auto – agência, não podia deixar de sugerir um itinerário alternativo!!

E bem, que tal viver uns belos momentos em mais um pequeno paraíso de Cabo Verde?… Imagino que o seja!


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O passageiro de Praia – Cabo Verde

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Eu podia ser também uma passageira para Praia, mas hoje cumpro outra missão, a de os servir e observar.

Há sempre imensos europeus que viajam para Praia, muitos em negócios, deduzo. Já eu, iria unicamente para absorver a cultura e a vida da morabeza.

Há pessoas de várias nacionalidades neste avião hoje: cabo-verdianos emigrantes em França, outros se que devem ter rendido à Holanda, ou mesmo Inglaterra; há europeus em negócios; há turistas, há locais. Uns falam crioulo e francês misturado, outros inglês, outros apenas o crioulo; alguns um português perfeito e os turistas cada um a sua língua. O próprio avião já é uma grande mistura, tal como os cabo-verdianos são!

Os turistas que aterram na cidade da Praia não são os turistas das massas, já que esses vão ao Sal essencialmente. Ou pelo menos não compraram a viagem num pacote turístico, daqueles que vemos em letras gordas nas montras das agências, porque há poucos hotéis na Praia, ou mesmo em toda a ilha de Santiago, e as agências de viagens só vendem para Sal e Boavista (ou estarei errada??).

Encontrei uma senhora velhinha no avião, com o seu lenço ornamentado preso na cabeça, a cor da pele castanha, daquela cor que nem é negra nem branca, e só falava crioulo. Tento imaginar o porquê da sua viagem Lisboa – Praia: terá ido visitar a sua filha em Portugal? Ou os filhos?

Outra, jovem, ao fazer o Praia – Lisboa, trazia uma filha bébé ao colo e outra caminhando ao seu lado. As duas eram lindas e sorridentes, claro. A mãe também, e não consigo compreender os sorrisos inocentes de tantos cabo-verdianos. Aqueles sorrisos podem enganar, mas a verdade é que encantam.

Os cabo-verdianos são na verdade uma mistura enorme, e não consigo descrevê-los de africanos apenas. Já não sei falar deles como se fossem simplesmente um povo que vejo e observo. Eles são mais para mim. São um país que é recheado de tantas características que só a eles pertencem, apesar de serem uma mistura. Mas são uma mistura única, um pequenino tesouro plantado ali no mar, em dez salpicos. Por vezes enganam, com disse, mas não deixam de ser preciosos!


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O meu sul

Hoje vivo num mundo onde dizem nada ser impossível. Porque insistem tanto nessa possibilidade? Talvez seja verdade.

Viajo para o calor agora. Passei a noite de ontem por cima da Europa, venho de um lugar muito frio, mas solarengo. Esta noite aterro num lugar quente, mas não quente demais. Mágico, até. E que me aquece a alma. Dá-lhe vida.

Fiz o caminho para o aeroporto, trocando o carro pelo avião. Podia ir para o meu norte, mas hoje vou para o meu sul. Um sul que pode não me pertencer, mas que é possível. Já é meu, um bocadinho meu. No aeroporto faço um check-in agradável e vou para o lado ar com o sorriso na cara: fui priveligiada no balcão, mas mereci a distinção.

Deambulando pelo enorme corredor das portas de embarque, chego àquela que me levará ao avião. Entrar num avião como passageira é estranho, sinto que os meus pés se esqueceram dos sapatos de salto alto. E bem,… Quando respiro fundo reparo que há alguma ansiedade no estômago. Ou será fome e cansaço? Não, quero mesmo que estas 4 horas se pareçam com 4 minutos.

Durmo a sesta prevista por cima de África.

E puff, destino alcançado!

Abraço quem me espera, sinto o calor do seu corpo e sinto a brisa quente do ar. Sinto-me bem recebida, sinto que a ansiedade está a ir-se aos pouquinhos. E sinto, só de sentir.

Adormeço numa cama que me é familiar, com a ventoinha ligada mas uma manta por cima de mim. Não percebo, isto não é a Europa!!!

De manhã vou à praia dar uns mergulhos e apanhar sol. Estava tão sedenta de sol, de ficar com areia colada ao corpo, de mergulhar um mar transparente e morno, de ler um livro estendida na praia. Não levei relógio, mas com sorte ouvi alguém dizer as horas ao meu lado. Daqui a pouco tenho que abalar para o almoço. Chamo o táxi e afirmo prontamente o preço que me vai cobrar. Assim percebe que não sou bem uma turista! Resultou, 100 escudos.

Almoço em família, ou não. Não interessa. Almoço. Uma boa notícia para o meu fim de tarde, fui promovida e convidada! Mas antes ainda vou beber um sumo de papaia cheio de gelo, em frente ao mar e com cheiro a marisco. Uma conversa rápida, mas produtiva e muito agradável… É tão bom rever amigos que conhecemos há já alguns anos e que pensávamos nunca mais os ver ali!

O fim de tarde prolongou-se pela noite e madrugada e valeu a pena. Alguns momentos complicados e pensamentos europeus, mas superados. Missão bem cumprida e bem aproveitada!

E bem, o regresso é inevitável e desta vez teve que ser bem rápido, pois o dever da vida chama. Um abraço e um sorriso sinceros, recebidos sem estarmos à espera, valem mais do que sei lá o quê. Um beijo. Valem mais do que milhões de horas a trabalhar ou a discutir sobre coisas ridículas da vida.

Será que estes sonhos podem ser realidades? Será que podemos acreditar no nosso sul, para além de confiarmos tanto no nosso norte? O norte orienta-nos a vida toda, e não nos abandona, não nos engana, não nos trai. E o sul? Porque existe a expressão de “encontrarmos o nosso norte” e não a de “encontrarmos o nosso sul”? Qual a diferença?


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A primeira vez

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Preciso falar da minha primeira vez. A minha primeira vez em África: Agosto de 2005, Ilha do Sal.

Chegámos de manhã cedo, e passámos por ali porque não havia vôos directos Lisboa – Praia. Numa manhã fizémos uma visita rápida ao Sal: as Salinas, a praia de Santa Maria, a vila de Santa Maria, Espargos, e… o pontão antigo, cheio de peixes e pescadores. É de salientar que tivémos a sorte de contratar um mini guia turístico: o taxista. Tomou o seu pequeno almoço connosco, enquanto passeávamos pelas salinas. E sim, eu molhei a cara com água das salinas, precisava de bronzear a minha pele de branca.

Foi a primeira vez em África.

Sentámo-nos na areia após a visita, estávamos com sono. Queríamos adormecer ali um pouco, em frente ao nosso primeiro mar morno e azul transparente. Mas não nos foi possível: senegaleses vieram interromper-nos o descanso para vender estatuetas. Senegaleses?? Talvez sim, talvez não, mas eram mais escuros do que os cabo-verdianos. Ficámos irritadas com aquela pressão, mas disfarçámos. Achámos aquilo um cliché de local turístico. Depois, apareceu um rapaz pescador, cabo-verdiano. Libertou-nos dos “chatos” e foi com ele que caminhámos pelo pontão. Cortou uma papaia com a sua faca grande e ferrugenta e nós provámo-la. E conversámos. E o tempo levou-nos de novo para o aeroporto do Sal, onde a Praia nos esperava.

E depois foi a primeira vez na Praia.

Fotografias de Inês Oliveira


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Em Cabo Verde, um sonho realizado na Praia do Tarrafal

Em Cabo Verde, um sonho realizado na Praia do Tarrafal.

Um minuto a caminho do Tarrafal

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