momento de viagem

sensações, emoções e imagens por aí!


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Uma fotografia em Helsínquia

Pronto, é ali. É ali que me apetecia estar agora.

No outro dia recordava a minha visita a Porvoo com a minha mãe, no nosso tão importante ano de 2016 (quando o meu pai se mudou para a Lua). E hoje, não sei como, lembrei-me deste parque em Helsínquia. Quando o descobri foi em 2011, há quase dez anos! Não foi a minha estreia na Finlândia mas quase. Era Verão. Fui passear sozinha, a pé. Caminhei muito se bem me lembro.

Vamos lá tentar reviver esta fotografia então… O objectivo era o de ir ver a escultura do órgão de tubos neste parque, em homenagem ao compositor finlandês Sibelius. Objectivo cumprido. E depois fui caminhando até à margem, onde há um pequeno porto marítimo. Aqui é uma grande baía – uma entrada do mar ali, ou então a terra a invadir a água. Ao fundo via uma casinha de madeira pintada de vermelho, mesmo ao lado da água. É um café que, segundo o google maps se chama Regatta. Tinha um ar tão convidativo, tão fofo, tão singular, feito com amor.

As pessoas sentavam-se na esplanada, aproveitando o lanche ao lado de uma água que não se mexe e que parece transparente, ouvindo os patos a cantar e dançar ali ao lado, espreitando a natureza para ver o que mexe. Conseguia-se ouvir o silêncio. Os carros passam longe dali, o que faz com que nos esqueçamos que estamos numa capital, na cidade. Teria ficado ali umas boas horas, mas lembro-me de ter tido vontade de conhecer o resto do parque.

Quero estar ali agora. Nem que esteja frio hoje, eu levo agasalhos e bebo um chá bem quente agarrado às minhas mãos. Quero ver os ninhos de madeira que ali têm para acolher passarinhos, nem que seja a contar quantos há. Quero sentar-me neste tronco feito banco. Quero caminhar por cima destas pedrinhas e ouvir o som delas. Quero ver a água quieta. E quero olhar o céu, azul, branco ou cinzento, mas tranquilo, sossegado. Assim, como eu estaria…


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Gratidão, Porra!

Preciso de fazer este agradecimento à empresa que me fez voar por cima das nuvens.

Suspiro. Recordo vários dias em que me deitei nesta cama, sincronizada com o despertar do país. Acordava um caco a meio da tarde, cheia de fome e de mau humor. Recordo as madrugadas, tantas!, em que não tinha conseguido dormir mais do que duas horas, tanto em hotéis quanto em casa, mas metia o carro a acelerar até ao aeroporto e aquela pica já me despertava! Quem tem o privilégio de conduzir numa cidade que dorme? Quem tem o privilégio de ver o nascer do sol por cima das nuvens? E o de ver o pôr do sol enquanto aterra no Rio de Janeiro? Quem foi ao Bolshoi em Moscovo e se emocionou ao ver tanta beleza naquela sala? Quem viu ballet em Praga? Quem viu um concerto de piano na Philharmonie de Berlim?

uma noite de lua cheia em vôo

Tantas vezes, e tantas em que eu nem queria assim tanto ir porque ela me queria vezes a mais lá, ela abusava de mim! E eu lá calçava os saltos altos e punha o baton, ligava a música animada no carro para sair dele radiante e sorridente e nunca falhar à minha empresa e, mais do que isso, àquele dia que tinha de ser o mais feliz possível. Mesmo estando eu a falhar à minha cama tantas horas…

Minha querida empresa voadora, não sei o que será de ti daqui para a frente, nem de nós, nem do mundo. Mas hoje lembrei-me de ti quando ouvi Mário Laginha (em vários momentos musicais): eu tenho um autógrafo dele, escrito por cima das nuvens, graças a ti.

Um dia estava na porta da frente do avião a receber os nossos convidados e entra a Maria João Pires. Lembro-me de ter sido a única a reparar e a reconhecê-la. Fiquei numa excitação tal quando ela me pegou nas mãos à despedida! Claro que lhe pedi um autógrafo também. Que ser especial que ela me pareceu… É um exemplo para mim, um ídolo, sempre será. Também tenho um autógrafo do maestro Vitorino d’Almeida. E o número de telefone da Olga Prats. Tudo contigo, dentro dos teus passarinhos voadores… Enfim…

o amanhecer em vôo

Lembro-me ainda de tentar arranjar bilhete para um concerto em Frankfurt, e ser abordada por alguém que me ofereceu os convites que tinha a mais. Um ensaio geral aberto na Sala de São Paulo à hora de almoço, com carros de polícia à volta da entrada para que não haja assaltos. Outro concerto em Boston e uma ópera na matinée da MET opera em Nova Iorque. Meu Deus, que falha, ainda não entrei na Ópera de Paris… Mas vi música contemporânea em Londres num domingo à tarde.

Fui a um concerto de jazz em Helsínquia, numa noite fria em que a caminhada foi por cima de gelo e neve. Dancei imenso numa noite quente em Accra, no Gana. E noutra em Moscovo, e outra outra outra. E por tudo tenho de agradecer…

O ser humano é um pouco insaciável. Também eu o sou. Devo reconhecer que tenho muito mais momentos para viver, porém todos diferentes destes. Estou no tempo da pausa, da lembrança e da gratidão. Tive tantos privilégios, mas neste momento não os tenho. É triste. Oh desculpem, tenho que continuar a agradecer, porra.

Que muitas coisas boas me continuem a inundar os dias e a mente. Mas todas essas que vivi não voltarão, outras parecidas virão! Até lá vou tentando ser eu a artista… Porque estes dias de Mar Morto não existiriam se não houvesse a minha melhor arte, a música.

E obrigada, porra… obrigada… E porra…


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pormenores em viagens

Hoje parece-me um bom dia para escrever sobre viagens. Estou precisamente há dois meses sem entrar num avião. Uns dirão que não é tempo nenhum, outros compreenderão que isto não me acontece em dias normais! Mas afinal viajar de avião neste momento deixou de ser aquilo a que me habituaram: ir descobrir novos mundos, passando por cima das nuvens e mais perto do sol durante um tempinho.

Não restam dúvidas que muitas coisas são agora postas em questão, tais como o ter que ir ao estrangeiro de avião para viajar. Conheço quem defenda que perto de nós já há muito mundo para explorar. Conheço quem esteja desejoso de fazer um check-in para ir bem longe de casa porque só lá consegue ser feliz. Há tantas razões por trás destas vontades antagónicas! Tantas mesmo!! Se por um lado me faz confusão quem não quer de todo explorar um pouco do mundo lá fora, também me incomoda quem tem uma urgência desesperante de ir ao estrangeiro fazer praia no nosso verão, por exemplo. Onde estou inserida eu? Neste momento não sei, preferia estar no meio destes dois exemplos. Continuo a considerar muito importante para o ser humano perceber o que se passa lá fora, conhecer culturas diferentes da sua, ver paisagens diferentes. Mas continuo a sentir que os portugueses precisam de ser mais patrióticos. Falo de nós em particular porque é a nação que melhor conheço.

Se nesta fase estou a aprender (ou reaprender) a ser feliz com menos e com momentos mais caseiros e menos poluídos, a minha profissão obriga-me a dar valor ao turismo, além dos motivos que já referi acima. E, particularmente hoje, gostava de recordar pequenos pormenores que já tive a sorte de viver em viagem, fora de Portugal. Os de cá ficam para nova escrita!

A ordem cronológica vai ser aleatória, isto vai saindo conforme as minhas sensações. Preciso de despejar, de gravar para todo o sempre as sortes que tive em viagem: entrei no Bolshoi em Moscovo; vi uma ópera na MET Opera de Nova Iorque; passei um túnel por baixo do mar na Islândia; banhei-me na Lagoa Azul na Islândia, com 4º negativos fora da água. Andei de scooter eléctrica em Bagan, na Birmânia; vi o amanhecer mais lindo da minha vida lá, no topo de um templo, e descalça. Passei o tempo que me apeteceu dentro do mar na Phi Phi Tailândia e fui de uma praia para outra num barco à boleia; conheci o cemitério de Père Lachaise em Paris, bebi um vinho no bairro de Saint Germain lá; vi ballet no Teatro Nacional de Praga; caminhei na zona leste de Berlim, ao lado do muro; andei de bicicleta em Amesterdão e comi um space cake em Groningen; perdi-me em Nova Iorque com dois amigos, depois de quinze horas a caminhar pela cidade. Fui às cataratas de Niagara perto de Toronto; fui a uma festa after work numa quinta feira à tarde em Buenos Aires e consegui falar espanhol com o taxista que nos estava a cobrar o dobro da viagem; visitei uma pequena capela redonda em Roma onde dizia que me podia casar ali; fui a Verona com uma colega e foi um dia inesquecível; vi o pôr do sol no Arpoador no Rio de Janeiro; subi o morro dos dois irmãos e antes disso usei uma moto táxi no Vidigal até ao início do trilho; vi a OSESP em São Paulo, num ensaio aberto ao meio dia e tive um medo de morte que me assaltassem à porta; provei açaí natural em Belém no Brasil; vi um rapaz subir o açaízeiro. passei a ponte Golden Gate em São Francisco num autocarro local; andei num autocarro local em Yangon na Birmânia. Dancei até ao amanhecer em Moscovo, sem beber ponta de álcool (música fantástica); comprei um gorro de pêlo no mercado Ismailov em Moscovo; dei uma corrida em Oslo, com amigos; conheci um senhor francês nessa primeira visita a Oslo, que havia trabalhado na Renault por muitos anos. Fui a Bruges na Bélgica, foi um dia lindo com uma colega; fui a Zaanse Schans com outra colega, perto de Amesterdão. E com essa mesma colega comprei um livro de partituras da Nina Simone em Boston. Consegui convencer a tripulação quase toda a irmos de Copenhaga até Malmo de comboio em jeito de aventura, e que dia fantástico que foi. Comi sushi pela primeira vez em Frankfurt; conheci uma festa gay na rua, à volta do lago de Genève; fui a uma sauna na Alemanha, em que devia estar sem roupa nenhuma; passeei pela zona ribeira de Hamburgo, quando a Elbphilharmonie estava em construção; meditei na praia em Miami, enquanto o sol começava a nascer por cima do mar; desci a Brazaville por amor (ou falta dele!); passei um dia na praia perto de Accra no Gana e comi lagostas ao almoço; fui comprar um CD de um músico conhecido no Gana, sozinha com o Ken. Mergulhei no Ilhéu das Rolas e almocei peixe vermelho de biquini e com os pés na areia; sentei-me num banco exterior de um parque em Helsínquia em pleno inverno, para apreciar a neve e o silêncio; fui conhecer a casa onde viveu Alvar Aalto com um colega, aí em Helsínquia; caminhei até à Igreja Santuário Dom Bosco em Brasília, e assisti uns minutos à missa de domingo; andei de barco no meio da floresta Amazónica perto de Manaus; vi um concerto em Frankfurt com um convite que nos ofereceram à entrada da sala; vi campos infindáveis de laranjeiras e limoeiros na Sicília e caminhei um pouco no vulcão Etna (havia mais vento do que na costa islandesa em pleno inverno!); tive uma hora de aula de ski na estância de Megève e atirei-me ao chão quando os skis não abrandavam; estive numa esplanada fantástica no topo do edifício de uma escola de artes em Madrid; comprei uma partitura usada na loja Beethoven em Barcelona, e comi tapas do mesmo prato com mais três colegas.

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neve em Helsínquia

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Bolshoi em Moscovo

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morro dos dois irmãos no Rio de Janeiro

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Amazónia – Manaus

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Bagan na Birmânia

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lagoa azul na Islândia

Oh meu Deus, que lista infindável! E ainda me dizem que passar uma vida inteira sem viajar é o melhor? Eu não posso concordar com esse fundamentalismo. Nem com o outro, porque se há mil lugares que preciso de conhecer são os de Portugal também. Nem que alguns desses lugares estejam em casa, porque também os há. O parar vale a pena, para reflectir e recordar a felicidade…


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C’est le bordel

Duas horas e pouco de voo e… c’est le bordel!!! De manhã acordam-nos à hora prevista; pouco depois ligam a atrasar a saída. Passados mais uns minutos voltam a atrasar. E chega. 

Vamos ao banho, vestimos a capa do trabalho e carregamos a cara do sorriso. É dia grande e vai ser maior! 

À saída do hotel estamos bem dispostos e bem aparados. Prevemos o atraso a casa mas nada de precipitações. A aviação manda respirar e aceitar. O aeroporto tem alguma afluência, fruto desta época e das enormes greves que os franceses tanto respeitam e mantêm. Após o raio x somos informados que o nosso bichinho voador aterrará dentro de quinze minutos. A porta de embarque é a A21. Seguimos para lá, conversamos de pé e observamos os nossos passageiros. Descubro uma criança chamada Alice que corre pela sala e perde a mãe. É o pânico. Ouço alguém ao telefone, fala português e combina com o outro lado da linha que vai falar com o Nico para acertarem a hora do encontro. Enfim, um ruivo entretém-se ao piano a experimentar uma qualquer partitura que procurou no seu iPhone. 
Dá-se o beijinho avião – manga do aeroporto e aí vem quem chegou agora ao destino. Uns chegam para revezar os que saem. É a nossa vez! 
Quando entramos num avião que acabou de chegar há toda uma dinâmica que o enche e preenche de pessoas e coisas: o pessoal da limpeza, o chefe de escala, os colegas da porta de embarque, o senhor do combustível que vem ao cockpit confirmar quantidades e abastecimento feito, às vezes o catering também, a tripulação que chegou e vai para o hotel,… E nós temos sempre apenas uns cinco minutos para tanto fazer, porque o atraso já vai longe e a pressão do tempo nos persegue. Estamos ainda num segundo fôlego e damos de caras com o primeiro convidado! E eis que num avião com 130 pessoas há tantas histórias escondidas, outras que se descortinam por necessidade: uma velhinha amorosa que traz uma blusa com renda e mangas de seda, entra com assistência de cadeira de rodas. Um simpatizante da velhinha pede a um senhor sentado à coxia para trocar com a velhinha. Ele diz que não, que pagou o lugar de coxia. Respondem-lhe que podia ser mais tolerante e compreensivo. O da coxia solta uma verdade: “eu tenho cancro da bexiga e posso precisar de ir à casa de banho, por isso paguei este lugar!” Quem diria, andar de avião também nos ensina que todos temos uma história… 
Lá ao fundo há a francesa gira com um laço a prender o cabelo e um cão pequenino dentro do saco de ombro. Mas que cãozinho tão fofo… Até um biberão tem para beber água durante o vôo! 
Depois há o francês luso-descendente: fala muito bem português mas nota-se-lhe o accent! Diz que vai passar as festas a Portugal e que se há tempestade talvez não esteja assim tão simpático para lá estar. Respondi-lhe rapidamente que o calor humano compensará. A modelo russa e o seu acompanhante pedem-me uma bebida que, mesmo repetindo umas 3 vezes não percebi. Rematam com um “champagne?” Pois não, a aviação comercial já não é o que era e o champanhe é na classe executiva. Vinho não lhes serve, finalizam com o “water please”. 
Há a francesa que não almoçou e quer almoço no avião. Em vez disso dou-lhe uns talheres para descascar a maçã que traz com ela. Ufa, tem uma maçã! Pobres de nós que sentimos fome, é uma condição humana a que chamo de limitação em vários momentos. 
Vem a família brasileira com tralhas e mais tralhas. Mas não voltam ao Brasil para já, ainda querem inverno, dizem eles! Outro nível de brasileiro: o casal com idade proporcional às posses abastadas, em que a senhora se choca com a classe executiva: nos primeiros quinze segundos de avião não encontra uma única coisa positiva naquele lugar, e descreve o quão mau é aquilo. Eu ouvi. É preciso saber gerir a nossa pressão para fechar portas e descolar, com mais a simpatia e atenção a dar ao cliente: respondi com rapidez, mas em silêncio prometi uma reviravolta em vôo. Conseguimos. 
Prolongo-me demais? É estranho como se passam tantas coisas em cinco minutos e precisamos de tantas palavras para as descrever! 
Pois bem, as duas horas e pouco de vôo foram animadas com turbulência e aterragem emocionante. A blusa da velhinha já tem dez anos e está imaculada, e o dia foi longo. Longo demais, não terminou ali na tempestade. Porém a boa disposição não se esgotou até ao último minuto. 
Incrível a nossa capacidade de filtrar o mau e aproveitar o bom, sendo que as nossas palavras humorísticas podem ser quase a nossa única salvação em tantas situações! Viva ao humor! Viva ao delírio! Viva! 


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Caminho meditativo

Estamos a caminho do aeroporto de São Paulo. Eu queria dormir uma sesta mas a mente ou o corpo ou sei lá o quê mais, não me deixam. Ouço piano e ouço-me no piano enquanto andamos. Abro os olhos e começo a olhar lá para fora por mais do que cinco segundos seguidos. Meu deus, estou do outro lado do Atlântico, num autocarro com colegas que mais parecem a minha família hoje, são 3.42h em Portugal, e a estrada lá fora é assustadora! Há reflexos no alcatrão, os da água que caiu do céu. Há carros e motas, mas não muitos. E há muita vegetação que esconde a pouca iluminação.

Emociono-me um pouco com os nocturnos de Chopin que ouço, lembro-me do meu sonho de convergir duas das minhas paixões: viagens e piano. Mas que merda não ter podido tocar num teclado preto e branco durante estes três dias, só porque escolhi viajar na vida. E que merda também eu ter tanta ânsia quando não posso, e ter desperdiçado tantas mas tantas horas ao piano quando eu podia!!! Quando eu tinha todo o tempo do mundo para lá estar, tudo era motivo para de lá sair.

Talvez seja feita para viajar apenas, ou para ensinar música e não a executar, ouvi-la só!!! Sentir, aliás!

Mas porque quero melhorar como executante, porque quero sentir o que faço quando toco e parece que não cheguei lá ainda? Depois vêm as dúvidas sobre se realmente sinto estas notas musicas. As viagens sinto, disso estou certa. Sou grata, apesar de me pesar certos dias. Como tudo, penso. Mas a arte é sempre mais questionável, não é?

As luzes começam a intensificar-se lá fora agora. Não é dia, não!!! Esse verei nascer de lá, por cima das nuvens e de todo um Oceano! Hoje prometo olhar para a janela quando o sol nos nascer em vôo.

As luzes são do aeroporto. Chegámos. Agora faltam mais umas singelas dez horas….

Meditar enquanto escrevo, foi o melhor que encontrei hoje!


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Lanzarote a solo

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Lanzarote – flores, verde e castanho

Cada pessoa tem os seus sonhos a realizar, cada pessoa é responsável pela realização de muitos deles. E cada pessoa sabe, com o passar do tempo, quais se vão apagando, os que apenas adormecem e os que deixaram de ser sonhos porque passaram a realidade!

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Lanzarote – terra preta

Viajar a solo deixou de ser um sonho para mim. Pelo menos a estreia!!!

Fui a Lanzarote, nas Canárias. Fui ver Natureza, fui ver aquilo que parece o vazio e que afinal é o tudo: montes e montes de vulcões!

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Lanzarote – igreja

Quero partilhar-vos a vós mulheres que queiram viajar sozinhas, que tenham algures esse sonho, que eu adorei a experiência. O silêncio acompanhou-me por vários momentos, conversei comigo mesma, ri-me sozinha, tive medos (mas poucos), estive um pouco doente, comi o que quis, fiz o que quis, fotografei sempre que me apeteceu. Ouvi a música que quis, não me preocupei em agradar a mais ninguém que não a mim própria, enfim, gostei muito mesmo!

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Lanzarote – ervas secas, montes no fundo

Há algumas desvantagens mas não muitas… Penso que cada um tem os seus desafios a viver e este era sem dúvida um que eu precisava. Saí da minha zona de conforto. Para mim foi um acto de coragem. Mas só precisei dessa coragem até chegar ao aeroporto de Lisboa para embarcar no primeiro voo! A partir daí esqueci essa coragem, era dado adquirido e nem precisei dela.

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Lanzarote – cactos

Depois de sair da minha zona de conforto não houve outra solução que não fosse aproveitar a viagem e encarar as realidades que me encontravam. Dei-me muito bem.

Já sei sentar-me sozinha numa mesa de restaurante para comer! E observo mais, converso mais com quem me cruzo, estou mais atenta e ao mesmo tempo sei que não me vou irritar com quem poderia estar ao meu lado, eventualmente.

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Lanzarote – palmeiras em Haría

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Lanzarote – aldeias solitárias

É realmente uma nova sensação de liberdade – expressão tão cliché e tão forte para esta viagem a solo.

Se está na lista dos sonhos, sugiro que realizem este!

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Lanzarote – paredes brancas em cima de chão preto

 

 

 

 

 


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Abriu a carta depois de descolar

Estávamos no avião, lá fora já chovia. Ainda hoje esteve o céu limpo e um calor abrasador, mas agora que é meio da tarde chove torrencialmente. O aeroporto fechou.

E pronto, abriu! Descolámos. 

Recolhia-se o trem de aterragem quando os prédios da Flórida se afastavam cada vez mais. E ele… Ele foi ao bolso das suas calças de ganga azuis, pescou um envelope já bem amachucado e rasgou-lhe um canto com a boca e os dedos. Com cuidado, mas entusiasmado. Era uma carta, pareceu-me impressa, vi-lhe a assinatura no final da página. E um coração desenhado à mão com sentimento. Daqueles que eu já desenhei tanto, daqueles que me dão o suspiro de os recordar! 

Ele sorriu, foi a primeira reacção que lhe vi na face. Desdobrou toscamente o papel e começou a ler. 

O resto… O resto já não sei, nem poderei saber talvez! Mas fiquei curiosa para lhe saber a história. 

Há viagens importantes na vida das pessoas. Esta é só mais uma para mim, mas comigo vêm viagens de uma vida, viagens únicas. Somos tão iguais, mas connosco vêm histórias tão diferentes! É lindo vivermos momentos de emoções fortes e eu, desde nova me apercebi que um aeroporto é riquíssimo em emoções. É a casa das emoções, onde elas se vivem e são tantas! 

Quem viaja sente-as. Quem deixa alguém importante na origem sente-as e quem tem outro alguém no destino também! A vida é bela, e a vida completa-se com viagens! 


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Uma descolagem

  

Avião no amanhecer

 
 Estamos em terra. Há trânsito hoje! A fila vai avançando aos poucos, parece uma autêntica estrada terrestre, mas aqui cada veículo transporta mais de cem indivíduos. Há o silêncio ou algo próximo dele. 

E porque quem espera sempre alcança, chega o momento da descolagem! Em três, dois, um, partida!!! 

Os motores ensurdecem-nos com potência máxima. Em poucos segundos a velocidade passa de zero a pelo menos 200 km/ hora. Olhamos lá fora: já o aeroporto se vê longe e as imagens passam cada vez mais rápido, mais desfocadas e riscadas. E eis que a parte da frente se inclina para cima e a cauda para baixo. O avião é uma perfeita obra humana, uma imitação de pássaros espectacular. Só mesmo visto e sentido. 

Tiramos os pés do chão e agora, como quem descola pela primeira vez na sua vida, espreitamos a pequenina janela do avião: as casas tornam-se casinhas, oh que saudade me está a bater no coração, a saudade de brincar aos Legos… A paisagem lembra-me tanto os Legos, isto era tão sério e de repente, visto cá de cima parecem casinhas, bonecos, carrosséis, carros de brincar, ambulâncias coloridas…! 

E por fim, a descolagem passou. Vemos nuvens, o sol, as casinhas pequenas e, o mais importante, os sonhos… 


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Maricleta e os 7 – dia 6

Hoje é a última manhã em Belém, último dia no Brasil, a noite em que vou atravessar o Atlântico novamente.
Aproveitemos o pequeno almoço recheado de frutas e o crepe de tapioca! Estávamos muitos à mesa, e senti que aquela era a nossa última manhã assim. A vida de viajante profissional é assim, nunca mais se repetem os momentos, as pessoas, as conversas. É bom? Dizem que sim. Já eu, encontro falhas nesta vida, pois o ser humano é feito de hábitos e de rotinas, segundo a psicologia. Às vezes tenho saudades da rotina. Mas tal como costumo figurar: não se pode escolher o preto e o branco ao mesmo tempo…. Avancemos!
Quis ficar pelo hotel durante o dia, já que o sol espreitava por entre as nuvens tropicais. E no fundo, já não estava com espírito para a cidade, a minha cabeça estava já no vôo, no regresso à vida real (se é que tenho alguma vida real!).
Fui ter com o sol no andar mais alto do hotel. Mas ele decidiu desiludir-me e não apareceu por mais do que uns míseros segundos. Deixou-me ler uma revista enquanto as nuvens já se preparavam… Os sinais foram surgindo e eis que elas começam a chorar! Fui recambiada para o quarto.
Dormi uma sesta, ou tentei dormi-la. E ainda era dia, o despertador tocou. O corpo dizia que não eram horas de me levantar, mas a mente sabia, ela sabia bem que o meu lugar não era ali.
A caminho do aeroporto percebo que há toda uma Belém por explorar, há uma zona moderna que ainda não fomos conhecer. O Teatro da Paz e a Igreja da Nazaré ficam também para uma próxima visita. Os passeios de barco pelo Rio, as ilhas com praias lindas em tempo seco, enfim… Quanto mais vemos mais há para ver e mais percebemos que nunca, mas nunca mesmo, vamos conseguir saber tudo, conhecer tudo, falar de tudo.
Voemos. O resto que se dane! E descolar é lindo!


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O que é a turbulência?

Alguns viajantes dos aviões dizem que têm medo da turbulência, aliás, que têm medo de voar.
Eu sou viajante do ar e não tenho medo. Podem responder-me: “Ah, que corajosa que tu és!”
Não, há medos se criam ao longo das nossas experiências, outros nascem connosco por estupidez. E o meu medo de voar nunca nasceu nem se criou.
Lembro-me duma das minhas primeiras viagens de avião, em que a turbulência se fez sentir, e eu fiquei relaxadíssima, dizendo que seria um embalo para dormirmos a sesta!
Vai daí, que acabo de sentir mais uma vez alguns eternos minutos de turbulência aqui por cima da Europa, e como devem imaginar, se me inspirou para um post há-de ter sido uma turbulência animada! Mas que animação, parecia que tinha ido dar uma corrida modo sprint de meia hora: fiquei com muito calor e o coração batia forte. A parte do desequilíbrio não era culpa minha , juro!
Definindo agora turbulência… As asas do avião abanam lá fora, os vinhos tintos saltam dos copos, as bandejas deslizam pelas mesas, e nós… Nós perdemos o controlo do nosso corpo, deixamos de ser racionais e passamos a ser uns bonequinhos animados por contágio!
Agora termino as descrição com uma mensagem aos meus amigos que viajam pouco, de férias: a turbulência é uma senhora… E depois de tudo passar e de voltarmos a ver o sol brilhar lá fora mais pertinho de nós, a turbulência não passou de uma linda brincadeira entre as nuvens e o sol: as nuvens seguravam no avião e o sol saltava ora acima ora abaixo dele, como se saltasse à corda! Só isso… Simples… Respirem agora, os nervos fazem parte de certos momentos arriscados! Quem vos manda viajar???