momento de viagem

sensações, emoções e imagens por aí!


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jornadas mundiais da juventude 2023

Este ano acontecem em Lisboa. Mas sinceramente, eu nem sei se acontecem todos os anos. Vou pesquisar… Dou por mim a perceber que este evento me passou ao lado ao longo destes 39 anos de vida. E dou por mim a perceber que há tantos mas tantos jovens que acreditam no Deus cristão, que vivem com fé, que vão à missa , que rezam, que cantam canções religiosas.

Pois então explico como vim parar aqui ao meu blog para escrever sobre Deus. E já agora, vou passar a escrever Deus com letra minúscula, assim: deus. Fui levar o meu carro para fazer um arranjo e decidi voltar a pé para casa em modo desporto. E não é que nunca vim sozinha no caminho? Vinham imensos jovens das JMJ também, saindo dos lugares onde dormiram e onde lhes deram guarida. Observei várias coisas e mais do que isso, senti que eles vivem com fé em deus. Só podem viver com fé. Ouvi falar alemão, francês, espanhol. Vi várias bandeiras, vi alguns jovens a pedir boleia para Belém, muitos sem sucesso. Mas ao longo da minha descida lá fui encontrando alguns carros samaritanos. Ouvi buzinas que acenavam aos peregrinos. E já agora, porque se chamam de peregrinos estes jovens? Ouvi três raparigas a cantar em francês, e era uma canção religiosa. Dei por mim a questionar onde está a maricleta jovem que também acreditava neste deus. Será que me perdi neste mundo mundano demais, será que quis explorar demais e acabei por encontrar pessoas menos boas, pessoas sem fé, pessoas que são mais felizes quando vêem outros menos bem, pessoas falsas, desonestas, que calcam para se levantarem… Será que havia um caminho longe desta sujidade?

Assim de repente, não sei bem como vim parar aqui e nem sei se é tudo assim tão mau ao ter deixado de ir à missa há já vários anos. A religião não é uma coisa física, ela tem de ser espiritual, porque tudo o que é físico distrai e influencia. Portanto não estou assim tão errada, eu sei. Mas também sei que com fé num deus a vida pode tornar-se mais leve em algumas situações. Há uma coisa ingrata: quando não tinha consciência das vantagens da fé eu tinha-a; agora que cresci e me apercebo das suas vantagens já não a sinto tão forte em mim. Mas vamos sempre a tempo.

Pena ter deitado aquela capa de canções religiosas ao lixo.

Eu andei no coro e mais tarde acompanhava-o no orgão.

Eu fiz o crisma.

Eu ia à missa. Eu confessava-me. Oh deus, tu sabes que não há pecados nem devia haver penitências mas enfim, talvez tivesse de passar por essa experiência para saber que é errado. Pelo menos é errado usar determinadas palavras quando se trata de falar com deus. “Por minha culpa, minha tão grande culpa” – Papa Franciscso, muda isto por favor!

Não me alongarei mais. Termino dizendo que, ainda bem que muitos fugiram de Lisboa nestes dias, tudo se torna mais claro assim! Mais límpido, mais imaculado!


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vila masai antes de Nakuru

vila masai

13 junho
Ontem não vos escrevi! Pois bem, tentando ser sucinta (coisa que não tenho sido muito ultimamente): ontem o despertador era para as 6.20h locais. Saída do acampamento às 7.30h. Como costumo ter o telemóvel sempre na hora portuguesa, enganei-me e não fiz contas desta vez! Ou seja, acordei naturalmente com as movimentações fora da tenda, olhei para o relógio e faltavam apenas 13 minutos para termos de sair com o Augustus até à vila Maasai! Foi muito chato para a Mary que confia em mim, mas reagiu bem, quem sabe melhor que eu. Fiquei super incomodada por lhe ter dado esse stress! As holandesas esperavam-nos mas fomos super rápidas, 5 minutos de atraso apenas. Não foi o melhor despertar para um dia comprido de passeio, mas lá me fui acalmando…
Caminhámos uns 10minutos até à vila Maasai. São aproximadamente 200 habitantes lá. Apesar de ter sido uma visita turística, o turismo ainda não está completamente enraizado e mais, os Maasai ainda conseguem viver com tradições muito muito remotas, muito básicas e simples. E isso foi bonito de ver. Eu já não seria capaz de ter essa vida, claro. Mas foi uma pequena viagem até outra dimensão que me soube tão mas tão bem!

fazer fogo na vila masai


Os rapazes vão para o meio da selva fora da vila quando fazem uns 14 anos. Lá podem ficar até 5 anos, aprendem a defender-se dos animais selvagens, a dançar e cantar, são circuncisados e hão-de aprender mais umas coisas que já não fixei. No final desse “estágio” o grupo deve lutar com um leão e se o vencer arranca um dente do leão e trazem-no como prova de o terem ganho. Os casamentos são arranjados ou têm sempre de passar pela aprovação dos pais dos noivos. As mulheres são quem constrói as casas: o material de construção é a mistura das fezes de vacas com terra. Com estacas de madeira fixadas ao chão fazem as paredes desse material. No telhado põe-se erva para impermeabilizar a casa. Duram em média 9 anos, depois disso há que construir uma nova casa. As mulheres também fazem imenso artesanato repleto de cor e há uma escola que formará as crianças para a área do turismo.

“casacos” masai


A dança dos Maasai tem algumas explicações, não é brincadeira: os homens saltam um de cada vez o mais alto que conseguem. Isso é treinado naquele “estágio”; aquele que salta mais alto dará menos vacas à família da futura mulher! Há aqueles que fazem o acompanhamento como se de instrumentos se tratassem, e o solista canta umas letras em Swahili. Não sei qual a letra, havia muito mais a aprender na visita em pouco tempo.

dentro de casa em masai

A alimentação é básica: carne de vaca, sangue de vaca e leite de vaca. A vaca não morre quando lhe tiram sangue para beber, o Augustus assegurou-nos. Existem muitas ervas medicinais usadas para doenças e chás. E a parte que todos querem saber: poligamia! Não há mentiras, não há falsidades nesse campo: a mulher só pode ter um marido mas o homem pode ter quantas mulheres quiser. Resta-nos perceber porque não pode a mulher ser polígama também… Será pela explicação primitiva que só assim se consegue saber quem é o pai dos filhos dela.

exterior de casa na vila masai

Isto é muita informação nova que não consigo reduzir… Todo um mundo novo…
Chegámos a Nakuru à hora de almoço, ou melhor, umas 13.30! Almoçámos no hotel com o Jimmy, o nosso condutor e guia fantástico. E lá fomos a mais um “game drive” à volta do lago Nakuru. Aqui é o lugar onde vi mais borboletas até hoje. Aliás, nós as quatro achámos todas o mesmo: tantas mas tantas borboletas! Além delas encontra-se um pequeno mar de flamingos rosa. É tanta abundância que nem sabemos para onde nos virar para os observar e ouvir. Devo lembrar aqui que o lago Nakuru tem água salgada devido à sua geologia, portanto nada de crocodilos que só gostam de água doce. Os flamingos vivem em paz ali. E pois bem, terminámos o nosso ciclo dos “big five” do Quénia em Nakuru porque fomos presenteadas com um rinoceronte a dormir. Vamos lembrar quais são: leão, leopardo, búfalo, rinoceronte e elefante.

rinoceronte em Nakuru!
é preciso fazer amor para procriar


Ainda fotografei duas girafas como se fosse expor numa exposição da National Geographic, observámos duas leoas ao longe e vimos muitos pássaros bonitos e bons cantores. Em Nakuru não há a mesma emoção que se sente em Masai Mara. Logo explicarei esta emoção para o caso de não ter sido capaz de a descrever antes!

podia ser national geographic mas uma das girafas está desfocada…
não é lindo?
flamingos sem fim

Não vale a pena falar-vos dos nossos duches em aventura, pois não? Portanto, na primeira noite ficámos num hotel humilde, mas lá se fez… Nas 2 noites de Masai Mara, no Lenchada Eco Camp a Mary tomou banho em água fria porque não tínhamos a certeza se ia haver água quente. Mas havia, tínhamos era de confirmar com a senhora que nos recebe se já tinha ligado qualquer coisa. Às 5.20h do primeiro dia a senhora foi à nossa tenda dizer que já estava bom para tomar banho. No dia do despertador fora d’horas estava quente também mas sempre  mais rara… Em Nakuru era o autêntico jogo da paciência porque caíam uns míseros fios de água na cabeça. A Mary quis mexer numa peça para ver se vinha mais água e eis que inundou o chão da casa de banho todo!  Chão esse com azulejos uns de cada família e cada cor. Interessante…


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o dia em Masai Mara


11 junho
Acordar às 5.20h locais não é nada de extraordinário, aliás, vai ser extraordinário. Tu é que não sabes disso quando ainda é noite e só ouves grilos, passarinhos e galos a cantar. E está fresco… bem fresco, até porque o teu hotel é uma tenda. A senhora do campo veio dizer-nos que já podemos tomar banho, a água já está quente. Ufa, foi uma sensação tão mas tão boa! Ah é verdade, temos sanita. Parece um baloiço mas tudo funciona.
Pequeno almoço bom, com tudo o que é necessário para começar o dia. Nada mais nem a menos.
Entras no parque Masai Mara quando o sol ainda não subiu. Fixe, vais poder fotografar animais com o sol torradinho como gostas!

girafas no amanhecer
gnus no amanhecer

Ai não, isto nem parece real: um minuto depois de entrar no parque eis que se vislumbram as girafas mesmo ali ao teu lado. Foi dos melhores “bom dia” que recebi na minha vida. Até arrisco dizer que ainda bem que não fiz nada semelhante a isto até hoje, assim ainda pude sentir o entusiasmo de criança aos 38! A minha primeira girafa no seu habitat havia sido no Parque Quiçama em Angola. Mas isto aqui tem muito mais animais, é qualquer coisa de único… Porém foi no Quiçama que os meus olhos se molharam ao ver girafas. Hoje não se molharam, quem sabe a excitação para fotografar com a máquina boa da mana fosse maior que a vontade de emoção externa!

afectos e ternuras

Portanto, registemos as espécies animais que por aqui se passeiam: girafa, zebra comum, thompson gazela, impala, heartbeast ou gnu, avestruz, grou coroado, elefante, búfalo, hipopótamo, leão, topi – gazela grande, babuíno, leão, leopardo, crocodilo, hipopótamo, …

zebra e gazelas fofas

Já ontem no final da tarde, na nossa estreia aqui, parecia que estava a conversar com uma girafa enquanto lhe fazia zoom com a máquina. A máquina não chega tão longe no disparo (ou eu ainda estou a aprender) mas o zoom chegou para conversar com a girafa. Em silêncio… E é disto que tenho de falar: o silêncio da savana é simplesmente fenomenal. Quando o Jimmy desliga o motor da van e nos içamos no tecto para fotografar, o silêncio é rei e conseguimos ouvir as ervas que dançam ao som do vento, o mastigar da girafa, os passarinhos que cantam sons que nunca ouvi, a respiração dos búfalos.

o leão
a leoa
ela connosco

São 8.18h da manhã aqui. Eu vi um leão e uma leoa. A leoa estava na sua refeição da manhã a comer um búfalo. Quando ao longe se viam os jeep e van estacionados ao lado duma árvore, íamos na direção deles. E eu digo ao Jimmy “ah, são só pássaros, abutres! Mas está bem, não deixa de ser bonito!”. Ele não me respondeu, continuou a conduzir… Até que, mais próximo da árvore, vemos uma cabeça no meio das ervas. Era o leão a levantar-se. Eu não sabia se devia gritar, abrir a boca, falar, chorar ou fazer como todos: agarrar na máquina rapidamente e pôr-me a focar.
O leão estava em descanso e a leoa comia. Os abutres esperavam que ela comesse para depois almoçarem. Mas que sensação tão única: a natureza em bruto. Sem mais palavras para isto…
Já vimos três dos “big five” do Quénia: búfalo, leão, elefante. Supostamente faltam dois: rinoceronte e leopardo. Mas eu sei lá, por um lado quero muito ver pelo menos um leopardo, só porque as pintas no pêlo devem ser giras; por outro eu quero lá saber, isto já valeu a pena. Está ganha esta viagem, posso ir embora porque já estou mais rica. Ganhei duas lotarias: lugar nos aviões até aqui e girafas e leões.

Aqui não há rádio com música nem wi fi. Já passei um dia inteiro sem
Internet: 24 horas sem internet. Não há internet no campo. Já vos disse que consegui passar um dia sem internet?

babuínos

Babuínos… Vimos uma família deles, fotografei claro. Mas às tantas dei por mim a observá-los apenas. A pensar que conseguia passar horas a observá-los assim de perto… Ver como se movimentam, reparar no seu pêlo, vê-los pentearem-se uns aos outros, enfim. É isso e as gazelas pequenas que saltitam de forma tão elegante, jovial, sedutora até! Lembram-se dum filme em que o fotógrafo de vida selvagem passa horas, dias, quem sabe semanas à procura de fotografar um tipo de lobo super raro. Acho que o actor é o Sean Penn. Quando finalmente encontra o lobo fica tão vidrado a observá-lo com a lente da máquina fotográfica que nem chega a disparar a foto. Ele deixa-o ir sem capturar nenhum momento em foto. No fim da cena a lição que tiro daqui é que há momentos reais que nunca serão vencidos pela fotografia ou vídeo. Nunca…
Aprendendo pequenos pormenores sobre alguns animais: as girafas são muito inteligentes, estão sempre a observar o que as ronda, mesmo quando bebem água: só flectem as pernas e a cada gole levantam a cabeça para olhar. As girafas, quando em família, olham cada uma em direções diferentes. Os elefantes têm uma memória gigante: se fazem um caminho um dia, passados uns cinco anos conseguem repetir exactamente o mesmo trilho… Depois há os tipos (impala) que se põem em pontos altos estratégicos para observar as redondezas: só o chefe da família é que sobe para o ponto mais alto enquanto os outros esperam. Ele acena dizendo que está tudo limpo e todos avançam…

apanhei-lhe a língua!

Bem, já fizemos o piquenique mesmo em frente ao Mara River, depois de uma pequena caminhada nas suas margens para conhecer duas famílias de hipopótamos e alguns crocodilos que mais parecem esculturas. A caminhada foi feita na companhia de um “ranger”, acho que se chama Bran ou algo parecido. Muito simpático, de cultura Masai. O Bran trazia uma arma grande com ele, parece que os hipopótamos não são nada queridos se nos aproximarmos deles. O seu som é tão imponente quanto ver uma das sete irmãs em Moscovo. Dominam todo o rio quando se ouve o seu som. Ouvi-los respirar na água também é lindo. E pudemos fazer xixi num wc ao lado duma ponte antiga feita pelos ingleses já há uns bons aninhos. A sanita é o tal buraco antigo mas maravilhoso para quem hoje se estreou na savana: fazer xixi no meio das ervas, mulheres atrás da van e homens à frente, é um teste à coragem e pudor da privacidade. Eu fui capaz, ufa!
Ando para aqui a descrever piqueniques, sons imponentes e esculturas animais mas no fundo tenho algo especial a dizer-vos: vi um leopardo! Aconteceu. O nosso Jimmy é fantástico e fez de tudo para que seguíssemos o leopardo tal como outros jeep e vans. Éramos alguns mas nada comparado com multidões na Times Square de Nova Iorque. Um sonho aqui, portanto.

leopardo tímido

Estávamos quase a chegar onde já se esgueiravam alguns turistas dos carros quando o Jimmy conduz rápido e nos diz: há uma surpresa para vocês. Eu respondo: o leopardo? Ele acena e continua… Quando parou o carro não víamos o leopardo. E eis que estava sentado no tronco daquela árvore. Quando o vimos ele começou a descer a árvore. E começou aí a perseguição em procissão pelo meio das ervas. Vou-vos contar: o leopardo era lindo lindo, pequeno o suficiente para não o fotografar bem mas tímido quanto baste para me ensinar e confirmar que há momentos tão perfeitos que não requerem fotografia. Que se lixe a fotografia, sabem? Aprendi o significado de “game drive”: é precisamente um jogo: os animais brincam connosco, escondem-se e mostram-se sistematicamente. E nós os humanos andamos de carro atrás deles. São as escondidinhas da savana! Isto não é um Safari, é mesmo um game drive. Não é previsto, é imprevisto e emocionante!

chateou-se com a família
crocodilo ou escultura?


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chegada a Masai Mara

grande vale do rift

10 de junho, 2022
Sim, já estávamos prevenidas que o hotel de Nairobi não ia ser nada luxuoso. E não há problema nenhum com isso! Só precisávamos de uma cama com lençóis lavados, sanita e duche quente, de preferência. Não precisávamos de fazer uns quinze minutos de terra batida repleta de buracos, pó e solavancos. Mas eles acharam que sim, sejam eles quem forem!
Acordar de madrugada já é meu hábito em trabalho, de férias às vezes também tem de ser. Pena o sono que nos acompanha ao longo do dia de exploração!
Foram umas 6 horas e meia para chegar ao Eco Camp de Masai Mara. Não acredito muito bem que tenha cá vindo, eu só via isto na televisão e parecia algo tão longínquo de mim! Pelo caminho passámos pelo Grande Vale do Rift. Não se vê muito dali, um pequeno miradouro colado à estrada. Mas se pesquisarmos encontramos imagens fantásticas deste Vale, além da sua enorme importância para a geografia e geologia.

acampamento em masai mara

Bem, continuando a ser descritiva qual Eça de Queirós, estou no meio da natureza agora. A luz eléctrica tem horas marcadas, a água quente ainda não percebi se existe ou não; o quarto é uma tenda alta mas super confortável. Imaginem que tem camas! E já vi várias pessoas com aquele tecido aos quadrados, normalmente de 2 cores, ao ombro. Aliás, o George é o segurança do hotel e trouxe-nos à tenda com o seu pano aos quadrados no ombro.

os masai de manhã


Masai Mara tem 1500km2 de superfície.
Jambo = olá, como estás?
Assanti sana = muito obrigada
Mara = muitos montes

Só umas notas que fui escrevendo por aqui para eternizar estas aprendizagens…


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fomos ver os animais na savana

paisagem da savana

Vou-vos contar o resumo de como vim aqui parar a este avião hoje.
Foram praticamente dois anos de prisão. Prisão e privação de muitas coisas. Eu até me costumo cansar da minha curiosidade e vontade de conhecer e aprender mais. Mas, nesta fase da prisão tive a oportunidade de me cansar de estar confinada. E que sorte tive por poder parar!
Mas entretanto fui falando de lugares desconhecidos com quem também se sentiu preso e foram surgindo trocas de mensagens com partilhas de viagens. Fomos alinhavando possibilidades e datas. A Mary conseguia uns dias num dos meus períodos de férias… Bem, vamos fazer um safari no Quénia? Não foi assim de repente, foi gradual e natural e com algumas outras ideias pelo meio.
Ainda por cima, não é que me apercebo que esta era uma das viagens que gostaria de fazer pelo menos uma vez na vida? Estava lá escrito no meu bloquinho de desejos que a Ana Isabel me ofereceu há uns anos.
Vamos lá ver os animais então. Já espalhei a mensagem que a minha missão será conseguir trazer uma girafa verdadeira comigo. Gosto delas, o que dizer mais?
No entanto deixo aqui uma reflexão enquanto ainda não aterramos em Nairobi: seremos nós os humanos uns hipócritas que nos aproveitamos da beleza e pureza dos animais para nos divertirmos? Ou ainda há respeito por eles lá longe para onde vou? Espero que sim, que encontre alguma
esperança em nós e no mundo que temos. Que volte a casa mais rica de fé na vida, no amor, na beleza, no ser humano! Quem sabe volte aos tempos primitivos, em pensamento, durante o Safari.

girafa em maasai mara

Junho 2022


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algarve em chuva

Com tantas trocas, imprevistos, mudanças de última hora, tropeços, enfim, mandam-me para Faro. Olhão, digo. Olha, quem sabe ainda me meta a caminhar numa ilha novamente, daquelas que são Portugal mas que parecem a Macedónia (como se a conhecesse mas não!)! Ou sei lá, na loucura ainda há sol e vento ameno que me ponham uma corzinha na pele nua de agasalhos.

Mas não, eles acertaram no dia mais chuvoso do ano, e eu aceito. Tudo tem a sua beleza e tudo pode ser aproveitado. Tudo, senhores!

O pequeno almoço com cházinho verde e sumo de laranja natural do Algarve dão-me o impulso para a prática de yoga lá em baixo, fora do quarto. Quero ver pessoas, quero pegar no meu tapete e descer a pé até ao andar do ginásio. Quero descalçar-me em público. O ginásio tem pessoas e pouco espaço. Mas e que tal ali ao lado da piscina interior, em frente às janelas de vidro? Parece uma sauna a temperatura, mas eu já vou tirando umas peças de roupa. E… que se lixe, é verão aqui!

Vou sempre sendo modesta e penso em praticar o yoga só um bocadinho. Acabo a chegar às últimas posturas que sei afinal! Isto rendeu… E a piscina interior sorri-me, o que faço, o que faço? Já sei: vou lá num instante, refresco e molho-me e.. Jacuzzi? Tem jacuzzi? Deixa-me lá experimentar isto… Olha, parecem pequenos vulcões! Estão a fervilhar!! Espera, isto relaxa os músculos! Será que me tira a celulite? Vou ficar aqui uns minutos a ver se resulta…

Pronto, rendo-me a este momento. É o jacuzzi a minha compensação, é isto o momento alto do meu dia chuvoso no Algarve! Era isto que me esperava por cá, foi o meu propósito… Obrigada universo! Está feito o meu dia, não preciso de mais nada!

Até os dedos se enrugaram, parece que me entusiasmei no jacuzzi! Mas eu juro que me parecia lá estar há um minuto apenas… E que bem nos sabe ficar cá dentro a ver a chuva cair lá fora, sem obrigações que nos levem a molhar a sola dos sapatos!

Concluamos que a chuva também nos ajuda a viver bons momentos, é só aceitar e adaptar. Eu já disse isto umas mil vezes, não já? Ah, mas o Algarve quer-se quentinho e solarengo a maior parte das vezes, sim?

(Abril 2022)


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trilho dos pescadores – Almograve – Zambujeira do Mar

A gigante frustração por decidir não ir ainda a Tromso, levou-me a pensar num plano B para me dar algum consolo! Tinha prometido a mim mesma que só não iria a Tromso desta vez por motivos externos a mim: nos dias que planeei ir ia estar a chover e nevar. Ora, isso é meio caminho andado para não ver auroras boreais. Adiei, mas com muita frustração… 

ana isabel no início da caminhada em Almograve

Ligo à minha amiga Belinha, quem sabe ainda esteja disponível para um fim de semana no Alentejo! Mas com caminhada, claro! Tive sorte! Lá fiz mais uma etapa do trilho dos pescadores, desta vez bem acompanhada. Fizemos 19km em pouco mais de 4 horas e para mim não custou nada (para a Bela também não) – de Almograve à Zambujeira do Mar. Os experientes bem diziam que é uma etapa fácil visto ter poucas zonas com areia. Estava com vontade de ver o pôr do sol à chegada na Zambujeira, e assim aconteceu! Esta vila recebeu-me pela  primeira vez tinha eu 18 anos. Estreei-me num festival de verão com a minha banda preferida – os The Cure. Não me lembrava de voltar a ver a praia da Zambujeira depois do meu último Sudoeste. Soube-me tão bem lá voltar agora, e depois de caminhar uma tarde inteira! 

paisagens deslumbrantes feitas pela natureza
passeios a cavalo

Começo a perceber cada vez melhor a diferença entre ir sozinha e ir acompanhada. Nenhuma substitui a outra. Há muita magia só mas também quando conversamos, quando percebemos o que está a sentir o outro enquanto caminha, como se comporta à medida que se vai cansando, e eu, como tolero o outro que é diferente de mim… E o outro, será que me tolera? Ponho-me à prova na minha relação com o outro… Sozinha preocupo-me muito comigo, com a minha segurança, tenho mais medos… A coisa é mais profunda! Mais silenciosa… Ouço os meus passos, a minha respiração, o som dos passarinhos, os meus mil e um pensamentos que às vezes me gritam e ensurdecem. Mas não partilho com o mundo, mantenho-me calada… 

E eis que, chegando à Zambujeira do Mar me sinto mais jovem, devido ao desporto mas muito também às memórias do Festival Sudoeste. Quisemos cumprir a cerveja em frente ao pôr do sol e o petisco de praia. Depois apanhámos o táxi de regresso a Almograve. De sublinhar que na Zambujeira apenas há dois táxis: marido e mulher. Aqui está o número do senhor Nelson:  961 540 170. Jantámos numa esplanada e fomos dormir. Fiquei no beliche de cima para recordar a infância em que dormia sei lá bem onde, mas com beliches pelo meio com certeza. 

lindo pôr do sol na zambujeira do mar
eu a sentir-me jovem na zambujeira

Felizmente que, mesmo com a frustração de não ir ver as auroras, acabei por fazer um óptimo passeio e tão bem acompanhada. Tenho a ideia que é sempre bom termos um plano B para o caso do A não funcionar, pois assim não ficaremos tão pendurados nem tristes! Maricleta, regista isto para ocasiões futuras! Regista também que se caminhares pelo menos 15km num dia terás a aura renovada! Melhor será se ainda fores almoçar peixe grelhado em Porto Covo antes de regressar a casa – nós fizemos isso!

porto covo

Para quem descobriu as maravilhas da caminhada como eu, podem encontrar imensas dicas no site https://www.vagamundos.pt/. É com a ajuda deles que vou procurando novas caminhadas em Portugal… Sou uma menina muito pequenina ao lado deles, pelo menos no que toca a caminhadas!

Esta caminhada foi feita em Outubro, uma das épocas mais perfeitas para as caminhadas no Alentejo. Ah, para encontrar o início dos trilhos desta rota “trilho dos pescadores” o ideal é ir em direcção à beira mar!


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passadiços de Aveiro

Estudei bem a lição e desafiei uma amiga atleta e companhia de viagens a ir comigo! Graças a alguns outros viajantes percebi que os passadiços de Aveiro são mais bonitos e interessantes entre Vilarinho e Esgueira (5 km para cada lado).

Esta é a dica principal que tenho a dar depois de ter pesquisado e experimentado. Mas podem ir ler o https://www.almadeviajante.com/passadicos-de-aveiro/ por exemplo, certamente estará mais completo do que o meu testemunho aqui!

mini dentes de leão?

Estacionámos em Vilarinho, uma aldeia bem perto da Ria de Aveiro, simples e anónima com certeza. Um pouco abaixo de Estarreja. E não é que ali vimos ramos da mesma vegetação (ou parecido) que no Lago Inle na Birmânia (Myanmar), a passearem-se pela água também? Já procurei o nome desta vegetação mas ainda não encontrei. Sei que devem ser plantas aquáticas. Quando se soltam e dançam pelas águas fazem o cenário mais bonito ainda. Há placas informativas ao longo deste passadiço de Aveiro e lembro-me de ver uma com a fauna e flora da Ria de Aveiro. Talvez aí se encontre o nome desta planta bonita.

plantas aquáticas soltas em Vilarinho

Pelo caminho encontram-se vários barcos de madeira amarrados a estacas enterradas na ria. Parece-me um outro mundo, bem diferente daquele em que tenho vivido lá nos prédios da cidade. Aqui imagino as pessoas a irem com o motor do barquinho debaixo do braço, a irem passear-se pelas águas da ria num domingo de tarde, sentindo o ar fresco da água e podendo observar os flamingos de perto!

barco atracado na ria

a minha Mary na casinha de observação no cais da Esgueira

Os 5km até ao Cais da Esgueira são praticamente planos, entre passadiços e terra batida, água, árvores de pinhal, arbustos da Ria. Muito fáceis de fazer a pé e mais ainda de bicicleta. No nosso caso a ida foi a pé e a volta a correr! No Cais da Esgueira há uma casinha de madeira para observação das aves; nós por cá entusiasmámo-nos com fotografias de reflexos: as nuvens no céu e na água ficam lindas!

nuvens no céu e na água

Os passadiços têm ligação à cidade de Aveiro, penso que são uns 2km desde a cidade até ao Cais da Esgueira. Mas tal como eu havia lido antes não valem pela paisagem, servem apenas de ligação. Não os fizemos. Se quiserem ir a partir de Vilarinho o estacionamento é escasso mas possível com alguma criatividade! E que a Natureza e a saúde (caminhar só faz bem!) nos acompanhem cada vez mais!

Finalmente fui mas poderei voltar 🙂


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as nossas raízes

rotunda da anémona – Matosinhos

Com os anos que passam a nossa pele ganha novas pintas, novos riscos, novas experiências. Gastamo-nos. Não há outra solução que não essa, a de gastar a pele. O sol… Tantas horas que o adorei, tantas horas que aproveitei os seus quentes beijos. Deitava-me nas rochas, esfregava algas para bronzear mais rápido e o óleo de cenoura factor 2 era o meu “protector” preferido! Hoje caminho pela praia de Matosinhos, tenho 37 anos e de repente voltei a ter 20. Vila do Conde é aqui ao lado e eu vivi-a tanto e de várias formas… Mas vivi mais ainda a praia de Esmoriz. A cidade que me viu crescer. E também a cidade que me mandou ir crescer lá fora. E eu fui! Mas nunca deixarei de ser do Norte. E é tão bom aterrar no Porto. Analisando bem, tudo nas nossas vidas está interligado. Sabem onde foi a exposição final do meu curso? No Aeroporto Francisco de Sá Carneiro. Sabem qual o nome que demos à exposição? Passaporte. O passaporte para o mundo do trabalho. E para o mundo… Afinal de contas o passaporte é para sair de “casa”. E eu levei a coisa a sério. Tanto que hoje já não preciso de me mexer para sair. O universo gira por mim! E nada é perfeito. Querer viver, querer experimentar, conhecer, explorar, não é só bom. Tem consequências. Quem sabe a pele tenha ganho novos salpicos à custa disso também. Mas não conseguimos fugir à nossa essência, temos de ser fiéis ao nosso coração. E perceber que ele muda de ideias. Quem sabe tudo mude novamente um dia destes. Ou um dia desses! E que bom será podermos estacionar em casa depois da viagem feita. E que mau seria nunca termos saído do lugar! 

Meu Norte, serei sempre tua!


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trilho dos pescadores: Porto Covo – V.N. Milfontes

Ela queria caminhar sozinha. Como gosta do mar e do sol, e o Alentejo a cativa, foi pesquisar o Trilho dos Pescadores. Decidiu que começaria pela primeira etapa do trilho no sentido Norte/ Sul: de Porto Covo até Vila Nova de Milfontes. 

Porto Covo – princípio do trilho

Quando estamos sozinhos, conseguimos examinar muito mais atentamente os nossos pensamentos, pelo que se apercebeu bem de todas as resistências que a sua mente lhe ia dando para mudar de planos — não precisas de ir tão longe; faz só 10 km; estás a atrasar-te e vai ficar escuro enquanto caminhas… 

Mas a estrada não parava, e o carro avançava, avançava até que chegou a Porto Covo. Estacionou no mercado, tal como é sugerido nas aplicações de trekking

Olha, sabes, faz assim: começa a caminhar e depois logo vês se vais até ao fim ou voltas para trás! Mas digo-te já que logo nos primeiros cinco minutos vais encontrar água, pedras e rochas para subir… E talvez não te venha a apetecer repetir este trajecto no regresso! Irra que foi mesmo! Nem passados cinco minutos encontrou logo um obstáculo: a maré um pouco alta obrigou-a a dar uns saltos por cima das rochas para não se molhar. Olhou para trás e disse: hum, não me digas que isto é um sinal de que tenho mesmo de chegar a Milfontes?! 

O princípio até ao forte em frente à ilha do Pessegueiro tem praias pequeninas lindas, dignas de fotografia e deleite. E ela já sabe disso! Não lhe doem as pernas e está entusiasmada, vê tudo com atenção e calma. A partir de meio caminho é que começa a achar que já andou muito, mas que certamente ainda falta muito para a meta! 

ilha do Pessegueiro ao fundo

Aos poucos, o snack da mochila vai escasseando, sem esquecer o chocolate preto que lhe dá aquela energia — quanto mais não seja psicológica. A água parecia muita, mas tem de ser racionada. E o sol parece que vai a mais de meio!

gaivotas

Um pequeno percalço assusta-a, acabando por lhe dar a coragem de quem precisa de acelerar um pouco: foi parar a um beco sem saída devido à subida do mar. Entre pedras, escarpa gigante e o mar agitado teve de reagir: voltar atrás depressa e sem hesitação! Talvez tenha sido 1km a mais, contudo deu-lhe aquele impulso para se sentir viva e com resistência. Agora é seguir em frente, sem perder o trilho por cima das escarpas. 

O silêncio de quem vive livre da metrópole é tão relaxante! Pelo meio, ouviu um pássaro com canto uníssono. Perdeu-se cinco minutos a ouvi-lo e a tentar fotografá-lo. A beleza disto é o inesperado em que nunca repararíamos quando andamos na espuma dos dias. Parar é tão difícil! 

quem me diz a espécie deste passarinho?

Quando o sol fica mais baixo, ela decide olhar o relógio para confirmar: são 18 h e ainda falta um bocado. Quanto? Não sabe bem, só quando começar a ver casas ao fundo perceberá. 

A areia cansa muito, mas o facto de não haver muitas subidas ajuda. São dunas e mais dunas salpicadas de flores e vegetação rasteira de praia… O mar lá em baixo a impor o seu respeito e o vento no ponto perfeito para não haver nem frio nem calor em demasia. 

vistas deslumbrantes do nosso Alentejo

Vila Nova de Milfontes aparece e eis que ela vai conseguir. As pernas já falam sozinhas e os dedos dos pés cresceram! 

Há ainda um percurso bonito como quem vai numa passadeira vermelha próximo da meta: tudo verde e com dezenas de andorinhas a sobrevoar o terreno. 

praia do Sissal

E é claro que ela chegou lá!

Tirou as fotografias da felicidade, alongou um pouco e descalçou-se por uns minutos. Foram 21 km de dúvidas iniciais, agora de certezas finais. E assim se ganha o gosto por desafios maiores: «enquanto houver estrada para andar a vida vai continuar».

pesquisa de todas as informações do trilho neste site: https://www.vagamundos.pt/guia-rota-vicentina/

texto corrigido por Sónia Macedo